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Meio Ambiente

O Problema das enchentes: criação de Parques Lineares e Revitalização dos rios

São Paulo cresceu de forma desordenada ao longo dos últimos séculos, desde sua fundação por padres jesuítas em 1554. Desde então, deixou de ser apenas um vilarejo para se tornar uma das maiores cidades do mundo, com cerca de 11 milhões de habitantes (18 milhões se considerado a totalidade da região metropolitana). Esse crescimento se deu sem maiores precauções, fazendo com que diversos problemas urbanísticos possam ser observados a todo o momento pela cidade.

Um dos problemas mais graves de São Paulo é a ocorrência de enchentes e inundações. Esses são fenômenos naturais, que no entanto, possuem seus efeitos potencializados pelas más condições da região urbana paulistana. Os rios e córregos da cidade vem sendo oprimidos pela construção civil, emparedados, tendo seus espaços vitais cada vez mais reduzidos. As áreas de várzea inundáveis foram invariavelmente sendo ocupadas por invasões ou mesmo impermeabilizadas. Essa área vital é composta pelas margens dos rios, represas e córregos, além ainda das áreas inundáveis por eventuais subidas dos níveis de água, sendo toda esse território definido pela categoria de Áreas de Primeira categoria de proteção aos mananciais.

No ano de 2001, cerca de 10,22% das áreas de proteção aos mananciais do município de São Paulo eram ocupados por áreas urbanizadas. Essa ocupação desordenada ocorreu principalmente por meio de especulação imobiliária, acabando por formar diversos loteamentos irregulares e favelas. Esse ocorrido é favorecido pelo fato de as leis de proteção das áreas de mananciais acabarem por diminuir os preços dessas terras, fazendo com que grande parte dessa área urbanizada seja irregular e incompatível com a legislação existente.

As ocupações de áreas de mananciais causaram diversos danos para a cidade, pois além da poluição direta dos recursos hídricos são responsáveis também por grande parte do assoreamento do solo e da redução da importante camada vegetal. No caso da cidade de São Paulo, podemos perceber os resultados diretos da falta de preocupação com a causa quando analisamos as áreas de várzea do Tietê e de seus principais afluentes, que sofrem com episódios freqüentes de cheias e inundações. Deve-se deixar claro que esse fenômeno é natural e ocorre na região bem antes de São Paulo se tornar o monstro urbano que é hoje. No entanto, a alta taxa de impermeabilização e urbanização dos terrenos da bacia do Alto Tietê, onde o município está quase todo inserido, é um sério agravante para esses fenômenos.

Cidades planejadas com maior equilíbrio ao redor do mundo seguem outra corrente de desenvolvimento urbano. A proteção das áreas próximas às margens dos rios é levada em conta quando se pretende evitar futuras tragédias e prejuízos aos cidadãos. Nessas cidades mais responsáveis vêm sendo implementados os Parques Lineares, projeto esse que seria a resposta para uma convivência sustentável entre águas, rios, cidades e cidadãos.

A falta de áreas verdes ao longo de toda a cidade é um dos principais fatores que possibilitam a ocorrência de enchentes. Essas áreas diminuem o processo de impermeabilização, quando agüentam uma maior infiltração das águas pluviais, em contradição com as áreas cimentadas, onde a água não consegue imergir e acaba por escorrer para as áreas mais baixas. Essas águas quase sempre acabam por terminar nos rios e córregos da cidade, que não suportando essa nova vazão, acabam por exceder a capacidade de suas calhas e inundam as áreas vizinhas.

A criação de Parques Lineares faria com que esse problema fosse reduzido, uma vez que aumentariam muito a capacidade de infiltração das regiões próximas aos rios, além criarem melhorias quanto ao paisagismo urbano, aumentando as áreas verdes e de lazer da cidade.

Juntamente com a preservação ambiental das áreas marginais, é feito necessário um trabalho de restauração do rio como um todo. Essa restauração tem como objetivo principal um regresso estrutural e funcional do estado original do rio ou córrego, sendo no entanto impossível que se volte a ser exatamente como era em seu estado virgem.

A restauração envolve compromisso com uma coordenação sustentável do meio ambiente, a partir de significativos investimentos humanos e financeiros na causa.

Sua função é entender como o rio e suas localidades interagem, efetuando medidas necessárias para um convívio mais harmônico entre esses e o homem. Assim sendo, o rio poderá ser finalmente devolvido ao convívio dos cidadãos, fato praticamente impensável nas suas condições atuais de degradação. Estas experiências vêm sendo realizadas em varias partes do globo, com enorme sucesso.

Casos importantes de criações de parques lineares e de restaurações de rios vêm sendo realizados com enorme sucesso por todas as partes do mundo, em projetos que variam muito em relação ao método, mas possuem todos um objetivo comum muito claro, melhorar a qualidade de vida nas cidades.

O rio Tamisa é o mais importante de Londres e possui um parque que segue seu leito através da capital inglesa, sendo este um importantíssimo corredor verde responsável pela preservação da vida selvagem.

Bem mais ao sul do globo, na Austrália, outro projeto foi efetuado com sucesso. Em Adelaide, o River Torrens Linear Park possui mais de 35 km de comprimento, sendo percorrido em toda sua extensão por uma ciclovia. Ao longo do parque, diversas praças e playground infantis podem ser encontrados nas proximidades das margens do rio Torrens. No parque australiano, uma das características do projeto foi a de tentar modificar o mínimo possível do relevo natural do rio, fazendo modificações apenas se necessário para um melhor conforto e segurança dos freqüentadores.

Na costa leste dos EUA, mais precisamente na Flórida, o rio Kissimmee teve 60km de seus meandros e de suas áreas inundáveis totalmente restauradas. Já é possível apreciar muitas mudanças positivas acontecendo, como o retorno do fundo arenoso original do rio, assim como a volta da presença da cobertura de sua superfície por uma grande quantidade de plantas aquáticas. O projeto está restabelecendo a forma física do rio com seus níveis de água históricos, ao mesmo tempo em que garante a segurança quanto à ocorrência de cheias prejudiciais à população.

Já na Coréia do Sul, um projeto gigante foi efetivado na capital, Seul. Antigamente, o rio CheongGyeCheon era responsável pela drenagem das águas de toda a cidade. Com a colonização no auge, o rio se tornou poluído, tendo como solução para seu problema o aterramento de sua calha principal, sendo assim substituído por uma enorme estrada automotiva. Após certo tempo, ficou claro que a estrada e os viadutos que ficaram sobre o rio eram responsáveis por uma ocorrência crônica de transito, alem de ter tido resultados paisagísticos terríveis.

Com um orçamento enorme, foi definido a demolição total das obras feitas anteriormente, investindo agora em transportes públicos para amenizar a falta das vias expressas. O resultado foi o renascimento do rio, tornando a área muito mais bonita e limpa com a criação de um pequeno parque que acompanha o leito do rio. Foram construídas ainda pontes e praças para a utilização dos coreanos.

O Japão vem sendo castigado por fenômenos naturais a tempos. Enchentes são uma das piores, como as causadas por um tufão em setembro de 1947, que fez o rio Tonegawa transbordar e submergir uma enorme área. Outra cheia que causou muitos estragos foi causada por uma forte chuva em agosto de 1998, quando o rio Yosagawa não agüentou o aumento do fluxo e inundou boa parte da cidade de Tochigi.

Eventos como esse fizeram com que os japoneses tomassem a liderança na criação de tecnologias para restauração de rios. A antiga técnica de enclausurar os rios com enormes paredes de concreto foi totalmente abandonada, dando espaço para ações muito mais ecológicas e plásticas. No rio Itachigawa, na cidade de Yokohama, essas paredes de concreto foram derrubadas, deixando espaço para uma vegetação nativa crescer livremente. Na cidade de Sapporo, o rio Shojingawa também seguiu a mesma linha de demolição da calha artificial, reutilizando as pedras para reinforçar as bancadas do rio. Nesse mesmo rio foram construídas áreas de escoamento, que em caso de chuva forte são a garantia de que o rio não irá transbordar. Já em Hokkaido, o rio Moizarigaua foi ainda mais além, utilizando apenas matérias naturais na sua restauração.

O segredo nipônico é a preocupação existente com o respeito às especificidade de cada rio e córrego. Somente assim é possível garantir que a revitalização será feita da melhor forma possível.

Mais próximo da nossa realidade esta o caso da cidade de Curitiba, exemplo de utilização da criação de parques para a melhoria de inúmeras questões ambientais. Pode ser observado na capital paranaense um planejamento em longo prazo muito bem feito, que possuiu como motivação inicial a conservação de remanescentes florestais e dos fundos de vale, em seu papel no controle de enchentes e de outras áreas identificadas como sendo ambientalmente sensíveis.

Em Curitiba, existem dois parques que podem ser caracterizados como emblemáticos para a causa. O parque Tingüi possui mais de 380.000 m², sendo parte de um projeto que prevê a implantação de um parque linear em toda a extensão do Rio Birigui. Já o parque Tanguá é responsável pela preservação de toda a bacia norte do mesmo rio. Uma união entre os dois referidos parques é a intenção máxima que garantiria a preservação total do rio Birigui e seus afluentes.

Após analisar as experiências internacionais e nacionais sobre o tema, como se poderia trazer avanços para a situação paulistana? O caso de São Paulo é ainda mais delicado, devido à sua complexidade urbana. Nos rios Tietê e Pinheiros, por exemplo, as marginais já tomaram conta de quase toda as margens, sendo assim ingênuo acreditar que seria possível a construção de um parque linear grande o suficiente para acabar com os problemas das cheias. No entanto, pequenas medidas, e mesmo o aumento das margens, hoje esmagadas dos rios, em alguns pontos já seria um ótimo avanço. Além da significativa melhora na contenção do volume de água, também viriam como vantagens à valorização da área a partir do aumento da área verde e da melhora paisagística da região.

Outros rios e córregos de São Paulo ainda possuem áreas intocadas o suficiente para que possa ser efetivada a preservação do terreno, não apelando para soluções mais rápidas e fáceis, como aterros e canalizações. Outra medida que deve ser tomada é a intensificação do controle de invasões nessas áreas de mananciais, já que estas promovem uma grande atração devido a seu baixo preço. É mais fácil prevenir a entrada do que ter de expulsar famílias dessas áreas irregulares, além de ter de arcar com as possíveis tragédias que podem ser causadas pela sua ocupação.

É aí que entra um importante intercâmbio de experiências e informações entre os diversos países e cidades do mundo. Essa troca é benéfica para todos, principalmente para aqueles que serão favorecidos com a melhora na qualidade de vida proveniente de ações governamentais como essas.

 

 

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