Programa “Cultura
Cidadã”: Boas idéias da Prefeitura
de Bogotá Contra a Violência
Baseado nos textos de Antanas Mockus, Prefeito
da Cidade de Bogotá de 1995 a 1997, e Hugo
Acero, Subsecretario para a Convivência e Segurança
Cidadã da Secretaria de Governo
A intenção básica do programa “Cultura
Cidadã” contra a violência, realizado
pela Prefeitura de Bogotá, Colômbia, entre 1995-1997
foi localizar os problemas de segurança e propiciar
a visão destes últimos como um assunto de congruência
entre as regras jurídica, moral e cultural. Esta aproximação,
em vez de estigmatizar e marginalizar o delinqüente
ou o indivíduo violento, dá cabimento a ilegalidades,
com graus muito diversos de tolerância moral e cultural.
Desde 1995 se deu um passo à frente em Bogotá para
reconhecer que a segurança não é de
responsabilidade exclusiva das autoridades armadas e da justiça,
e sim que deve também ser abordada pelas autoridades
administrativas, através de uma política pública
clara que de maneira sustentável, como política
de Estado e não do governante de turno, planifique
e oriente a criação de cidadania e melhoria
dos índices de convivência e segurança
urbana.
Tanto para o plano de desenvolvimento da Capital, como para
os planos de desenvolvimento locais (1), as
propostas que respondiam aos problemas de violência
(fossem de segurança
cidadã ou de conflito social) tinham que ser classificadas
dentro de um marco diferente:
Projetos correspondentes à prioritária “legitimidade
institucional” - apontam para a geração
nos cidadãos de credibilidade nas instituições,
as normas, o serviço público e os governantes;
Projetos de Cultura Cidadã - um “conjunto de
costumes, ações e regras mínimas compartilhadas
que geram sentido de pertencimento, facilitam a convivência
urbana e conduzem ao respeito do patrimônio comum e
ao reconhecimento dos direitos e deveres cidadãos”.
Desta maneira se tentou levar em conta os problemas de segurança
sem convertê-los em uma prioridade “autônoma” e
sem vê-los ou tratá-los dentro de uma perspectiva
exclusiva ou basicamente setorial.
Os mais destacados resultados deste enfoque foram os seguintes:
- redução da taxa de mortalidade anual por
homicídio (de 72 a 51 mortes por cada 100.000 habitantes);
- redução em mais de dois terços do
número de crianças lesionados com pólvora
durante a época de Natal;
- redução de 20% da taxa anual de homicídios
culposos em acidentes de trânsito (de 25 a 20 por cada
100.000 habitantes);
- respeito das faixas por pedestres e motoristas; uso do
cinto de segurança por mais de dois terços
dos motoristas.
Medidas como a “Lei Zanahoria”, que limita a
venda e o varejo de bebidas alcoólicas a partir de
1:00 da manha, seguem hoje em dia vigentes em Bogotá e
foram adotadas em outras cidades colombianas.
Abaixo apresentamos um breve panorama das ações
de Cultura Cidadã que de modo mais patente permitiram
a prevenção e o controle da violência.
Ação: Cartões Cidadãos
Mudanças desejadas: Que uns cidadãos regulassem
o comportamento de outros de maneira pacífica.
Descrição: cartões, com um lado branco
e outro vermelho, foram maciçamente distribuídos à população.
O lado branco mostra uma mão cujo polegar está estendido
para cima. Uma legenda diz “Bogotá faceira”.
O lado vermelho mostra uma mão cujo polegar está estendido
para abaixo, o convencional sinal de censura. Inicialmente,
estes cartões foram elaborados e distribuídos
com o apoio da iniciativa privada. Divulgados em centenas
de milhares de unidades, foram distribuídos entre
pedestres e motoristas.
Alguns resultados: muitos motoristas utilizaram o cartão
e alguns o conservam aderido permanentemente a uma das janelas
de seu veículo. O lado vermelho foi utilizado com
maior freqüência (para censurar comportamentos
indevidos por parte de pedestres ou de motoristas). Também
usaram a face branca com o polegar para cima quando desejaram
reconhecer ou agradecer comportamentos cidadãos destacáveis
ou positivos. Em algumas situações de conflito,
os sindicatos e as comunidades expressam desaprovação
usando grandes cartões com o dedo para baixo ou fazendo
o mesmo gesto com a mão.
Ação: Mímica nas Faixas de Trânsito
Mudanças desejadas: uma melhor convivência entre
pedestres e motoristas e maior consciência sobre a
necessidade de ter e observar regras de convivência.
Descrição: consistiu em várias medidas.
- Mímicos: em várias partes do centro de Bogotá a
cidadania respondia com assobios a motoristas que, ante o
pare obrigado pelo semáforo, não respeitassem
as convenções e se detivessem sobre a faixa
que demarca a passagem de pedestre. Quando o motorista não
movimentava o veículo para trás, no meio dos
assobios aparecia um mímico que tentava persuadi-lo
a respeitar a faixa; se não retrocedesse ante o convite
amistoso e lúdico do mímico, intervinha um
policial de trânsito. As pessoas acabavam aplaudindo, à vista
de todos, a ação do policial que impunha a
multa. Assim, a repressão policial era a última
medida de uma seqüência pedagogicamente ordenada
e, graças à clara leitura da situação
e ao apoio social da sanção, o efeito pedagógico
se reforçava. A partir de julho de 1995 e durante
três meses, 400 jovens mímicos com a cara pintada
e vestidos de preto, instruíram aos bogotanos — sem
palavras e sem gritos — sobre como respeitar as convenções
do trânsito pedestre e veicular (não jogar lixo
na rua, ajudar os idosos a cruzar, respeitar os semáforos
e as faixas); utilizaram a vergonha como arma educativa a
fim de que os mesmos cidadãos se transformassem em
juízes dos infratores. Posteriormente os mímicos
se deslocaram às 19 localidades urbanas da cidade.
- Intersecções: se realizou uma campanha educativa
em cruzamentos de alto fluxo veicular para conseguir que
os motoristas aprendessem a deter-se antes dos cruzamentos
pedestres (faixas) e que os pedestres aprendessem a cruzar
só pelos lugares demarcados. Na campanha participaram
mímicos, policiais, policiais cívicos de trânsito,
policiais auxiliares bacharéis e policiais “virtuais”.
Os policiais virtuais de Bogotá são biombos
colocados em lugares estratégicos das vias com policiais
pintados com pequenas janelas que serviam de ponto de observação
para as vias. Era difícil verificar se ali estava
ou não um policial de verdade.
- Pontos de Ônibus: mediante programas educativos (demarcação
do sinal de parada no solo, sinais móveis de “logo
que parados” para evidenciar o descumprimento da norma)
se buscou habituar às pessoas e aos motoristas a subir
e descer do ônibus nos lugares demarcados.
Alguns resultados: a campanha educativa foi realizada em
482 intersecções viárias e teve a participação
de 425 pessoas (entre mímicos, policiais, etc.). Foram
demarcadas 364 intersecções na cidade. O número
de passageiros que respeitavam os pontos de ônibus
subiu de 26,2% em 1995 a 38% em 1996; e entre fevereiro e
maio de 1997, 43% dos veículos os respeitavam. O programa
para inculcar o respeito às faixas foi um dos que
deu melhores resultados; os cidadãos mesmos começaram
a exercer um grande controle social sobre os infratores.
Em 1996, 76,46% dos motoristas e 72,25% dos pedestres respeitavam
a faixa. O que distinguiu estas campanhas foi sua concepção
lúdica e não repressiva na promoção
do cumprimento das normas de trânsito.
Ação: Criação do Boletim de Violência
e Delinqüência
Mudanças desejadas: institucionalização
da informação sobre segurança. Antecedentes:
três instituições diferentes emitiam
informações importantes sobre assuntos relacionados
com a segurança. Havia discrepâncias e grandes
incoerências entre as informações procedentes
dessas três fontes. A prefeitura de Rodrigo Guerrero
(1992-1994) em Cali, outra importante cidade, tinha demonstrado
que um tratamento epidemiológico da violência
requer informação fidedigna e dividida por
zonas geográficas.
Descrição: várias instituições
estudaram os critérios para a colheita de dados sobre
mortes violentas em Bogotá e concordaram em criar
o “Boletim de Violência e Delinqüência”,
de circulação mensal. Este boletim permitiria
fazer um acompanhamento dos principais delitos e sua evolução
em cada uma das 20 localidades da Capital, assim como ter
a informação por bairros. Serviu de base para
as análises, as avaliações e as decisões
importantes do Conselho de Segurança da cidade e dos
comandantes da polícia nas suas reuniões rotineiras.
Ação: “Lei Zanahoria”
Mudanças desejadas: redução das mortes
violentas ocasionadas ou facilitadas pelo abuso do álcool.
Antecedentes: observa-se uma estreita relação
entre o consumo de álcool, especialmente nos fins-de-semana,
e um grande número de mortes violentas e acidentes
de trânsito. Em 1995, 49% dos mortos em acidentes de
trânsito, 33% dos homicídios com armas de fogo,
49% dos homicídios com armas perfuro-cortantes, 35%
dos suicídios e 10% das mortes acidentais mostraram
uma associação com elevadas concentrações
de álcool no sangue das vítimas e dos perpetradores.
Descrição: impôs-se o fechamento à 1:00h
da madrugada das tabacarias e estabelecimentos noturnos de
diversão que vendiam bebidas. Esta medida foi complementada
por outras que Buscavam fomentar o controle cultural, a auto-regulação
e sanção. As propagandas televisivas “Entregue
as chaves” e “O motorista eleito” ajudaram
a fortalecer a regulação exercida pelos cidadãos.
Melhorou também o controle nas vias em horas noturnas
e a aplicação de sanções aos
motoristas embriagados. Se criou o programa piloto de educação “Saber
antes de beber, uso responsável do álcool” para
mostrar as diversas conseqüências que acarreta
o consumo de bebidas alcoólicas, desde seus efeitos
bioquímicos, até os efeitos sobre o ambiente
e sobre o grupo que bebe com o consumidor. Este programa
foi apresentado a 3.500 estudantes secundários das
séries 10 e 11 e a 150 docentes orientadores.
Alguns resultados: em 1995, os homicídios com concentrações
detectáveis de álcool no sangue se reduziram
em 9,5%. As mortes em acidentes de trânsito em que
alguma das pessoas envolvidas estava embriagada diminuíram
24,2%. No Natal de 1996 os homicídios desceram em
26,7%. E em 1997, em comparação com 1996, se
reduziram em 15% os homicídios comuns e em 13% as
mortes em acidentes de trânsito.
Ação: Plano de Desarmamento
Mudanças desejadas: redução do risco,
desalentando as ações de justiça pelas
próprias mãos e promovendo a confiança
entre desconhecidos
Antecedentes: o governo anterior da Capital tinha conseguido
restringir o porte de armas nos fins-de-semana, o que tinha
diminuído o índice de homicídios. Mas
em vista de que a taxa de homicídios continuava sendo
exageradamente alta, convinha tentar reduzi-la mais ainda.
Descrição: em 1996 se restringiu o porte de
armas e se reforçaram as medidas de controle. Ao final
do período do governo, no segundo semestre de 1997,
se proibiu o porte.
Alguns resultados: os homicídios comuns mensais foram
reduzidos de 397 em 1995 a 291 em 1996. Depois da proibição,
as cifras foram mais contundentes: em comparação
com os mesmos meses do ano anterior, reduziram 30% em setembro,
23% em outubro e 26% em novembro.
Ação: Desarmamento Voluntário
Mudanças desejadas: reduzir o risco de causar a morte
de outros em momentos de ira ou por distração.
Identificar e controlar, com o compromisso dos próprios
cidadãos, o que os epidemiologistas chamam “fatores
de risco”.
Antecedentes: em 1995 e 1996, 74 e 73%, respectivamente,
dos homicídios notificados em Bogotá foram
cometidos com armas de fogo de porte legal ou ilegal. Nos
Estados Unidos da América, país tradicionalmente
liberal com o porte de armas, se realizou uma investigação
para examinar a aquisição de armas com a intenção
de melhorar as possibilidades de defesa pessoal. Segundo
seus resultados, a probabilidade de provocar a morte devido
ao uso acidental ou imprevisto das armas é 42 vezes
superior à probabilidade de fazê-lo em cumprimento
da função defensiva para a qual se adquiriu
a arma.
Descrição: com o lema “Que as armas descansem
em paz neste Natal” se realizou uma campanha, apoiada
pelos meios em massa de comunicação, para que
os cidadãos entregassem voluntariamente as armas e
munições que possuíam. Foram recebidos
armas, munições e explosivos convencionais
e não convencionais das mais diversas classes, entre
eles granadas de mão. Com a ajuda muito importante
da iniciativa privada e de embaixadas de países que
se uniram à campanha, se estimulou a entrega das armas,
munição (e explosivos) com o incentivo de trocá-los
por bônus para adquirir presentes de Natal. Algumas
pessoas não pediram nada em troca da entrega das armas,
munição ou explosivos!
Alguns resultados: com as 2.538 armas entregues pelos cidadãos
se fez uma fundição e se produziram colherinhas
para alimentação infantil. As colherinhas,
montadas sobre bases fundidas do mesmo metal, levam a legenda “FUI
ARMA”. O conjunto de colher e base vem em um lindo
estojo de madeira e acrílico para residências
e escritórios.
Ação: Policiais formadores de cidadãos
Mudanças desejadas: contribuir à formação
profissional dos agentes da polícia, procurando com
isso melhorar a relação entre a instituição
policial e os cidadãos.
Antecedentes: Antanas Mockus, como candidato a prefeito,
tinha adquirido o compromisso público de melhorar
a formação da polícia.
Descrição: 4.750 policiais se inscreveram em
cursos de formação e capacitação
de um mês de duração, dados por duas
universidades privadas. A formação abrangeu
temas como a mediação e a conciliação
nos conflitos, os direitos fundamentais do cidadão,
o estado social de direito, a gestão e o desenvolvimento
local, a lei da polícia, os códigos policiais,
abuso sexual de menores, inglês, padronização
de procedimentos, pedagogia e o programa de desenvolvimento “Formar
Cidade”.
Alguns resultados: os policiais participantes valorizaram
muito os aspectos da comunicação e expressão
criativa. Também reconheceram a grande importância
da realização de alguns “Viveiros de
convivência”, com situações simuladas
(transgressores, autoridades, cidadãos afetados pela
transgressão) em que cada grupo colocava argumentos
para defender sua posição.
Ação: Escolas de Segurança Cidadã
Descrição: Com o objetivo de vincular as comunidades
ao tema de insegurança, o Comando da Polícia
Metropolitana pôs em marcha diferentes programas especiais,
como as Escolas de Segurança Cidadã, onde se
capacita a comunidade em temas de segurança e convivência,
Buscando melhorar os comportamentos cidadãos, fazendo
com que os líderes capacitados orientem suas comunidades
no apoio às autoridades na prevenção
da violência e da delinqüência. Através
deste mecanismo, hoje em dia a cidade conta com mais de 26.000
líderes formados. Essa política impulsionou
a criação, em 1995, das Frentes Locais de Segurança,
que são organizações de caráter
comunitário, que integram os vizinhos por quadras,
setores, bairros, conjuntos residenciais e edifícios,
com os quais se Busca combater o medo, a apatia, a indiferença
e a falta de solidariedade frente à ação
dos violentos. Existem atualmente 6663 Frentes.
Ação: Justiça Próxima ao Cidadão
Descrição: Nesta linha se inscrevem os programas
de justiça alternativa, como a resolução
pacífica de conflitos entre particulares e no interior
dos lares, como também o fortalecimento da justiça
punitiva, como é o caso de facilitar o acesso da cidadania
aos serviços que prestam a Promotoria Geral da Nação,
Medicina Legal e a Polícia Judicial. Os conflitos
gerados na cidade como conseqüência da intolerância,
os problemas internos dos lares, entre vizinhos e em geral
da violência contra o menor, têm sido atendidos
nas Comissões Familiares, que passaram de 5 em 1995
a 20 em 2001; pelas 12 Unidades de Conciliação
e Mediação e por 2 Casas de Justiça
que, além de atender diretamente este tipo de problemas
nas localidades, têm propiciado a capacitação
de aproximadamente 1.700 líderes que se converteram
em mediadores comunitários, que atendem casos diversos.
No que se refere ao fortalecimento da justiça punitiva,
se criou uma Unidade Permanente de Justiça, da qual
fazem parte a Promotoria Geral da Nação, o
Instituto Nacional de Medicina Legal, a Polícia Metropolitana
e de Trânsito e uma unidade de Inspeção
Policial, a qual atende durante as 24h do dia. Nela, a Promotoria
e Medicina Legal, definem em menos de dois dias a situação
de pessoas acusadas por delitos. Na Unidade Permanente de
Justiça, nos dois últimos anos, conseguiram
colocar à disposição da justiça
mais de vinte mil pessoas que haviam cometido delitos. Igualmente
existem espaços onde, nos últimos dois anos,
foram sancionados com retenção de não
mais de 36 horas, a mais de 120.000 infratores, dos quais
foram confiscadas armas de fogo e cortantes. Antes em casos
semelhantes, os infratores eram libertados sem punição
por não haver espaço para detenção
temporal.
Na mesma linha, foi ampliada a capacidade da Penitenciária
Distrital, em uma moderna edificação na qual
se implementou um programa de resocialização
que Busca dar dignidade ao recluso. Com o programa, reduziu-se
a violência e o consumo de drogas, podendo-se observar,
praticamente, a erradicação de mortes dentro
do presídio.
Ação: Polícia Comunitária
Mudanças desejadas: aproximarço policial à comunidade
local e propiciar uma cultura de segurança cidadã no
bairro ou setor designado, através da integração
da administração local, da polícia e
da comunidade, em procura do melhoramento da qualidade de
vida.
Descrição: Pôs-se em funcionamento uma
nova modalidade do serviço policial impulsionada em
1999: a implementação da Polícia Comunitária
(polícia de proximidade).
Alguns resultados: Segundo um estudo realizado pelo Instituto
de Desenvolvimento Humano da Pontifícia Universidade
Javeriana, 96,4% dos entrevistados manifestaram que a Polícia
Comunitária é uma alternativa eficaz para reduzir
os delitos e melhorar a convivência cidadã,
entre outros aspectos, porque desenvolve processos de conscientização
na comunidade, gera compromisso, diálogo e confiança,
e trabalha na prevenção e redução
do delito.
Ação: Atenção a jovens envolvidos
com casos de violência e o consumo de drogas
Descrição: Desde 1998 a Administração
Distrital cria um projeto orientado a reduzir os fatores
associados à violência juvenil, por meio do
qual se ligou a mais de 20.000 jovens. Os componentes do
Programa são: educação, ocupação
do tempo livre, alternativas para a geração
de renda por meio de atividades legais e a participação
juvenil. Desenvolveram-se as seguintes atividades: um curso
de segundo grau curto com ênfase em convivência,
para jovens pertencentes a quadrilhas e em processo de reinserção,
formação para o trabalho, desenvolvimento de
hábitos e competências básicas, atividades
culturais, recreativas e de formação para o
manejo do conflito em instituições escolares.
Finalmente, apóiam-se iniciativas juvenis para a convivência,
através de concursos como “os jovens convivem
por Bogotá”, entre as quais destacam-se projetos
que Buscam a reinserção de jovens em processos
educativos, de trabalho e sociais.
Ação: Programa Missão Bogotá e
Programa Renovação Urbana
Mudanças desejadas: Melhoramento da convivência
e recuperação de espaços críticos
Descrição: A partir da “teoria das janelas
rotas” de Kelling e Coles (1997), nos últimos
três anos o Programa Missão Bogotá centrou
sua intervenção na recuperação
de espaços críticos em matéria de segurança
e convivência, para os quais, com o apoio da Polícia
Metropolitana, definiu e aplicou planos e ações
tendentes a melhorar a segurança e fortalecer os laços
de filiação que vinculam os cidadãos
com seu entorno comunitário.
Através do Programa Renovação Urbana,
desde o ano de 1998 se interveio no local mais violento da
cidade, conhecido como “O Cartucho” onde se comercializavam
drogas, armas e se organizavam atividades delitivas. Este
espaço, conhecido em outras cidades como “ollas”,
se havia constituído no lugar onde se desenvolviam
atividades delinqüentes sem que as autoridades Distritais
e Nacionais pudessem fazer algo, até o ano de 1998,
quando se tomou a decisão de acabar com o problema
pela raiz para construir ali um parque.
A intervenção neste espaço se realizou
a partir dos âmbitos social, policial e administrativo
e os resultados têm sido importantes em matéria
da redução dos índices de violência
e delinqüência da cidade e de reinserção
social dos cidadãos que habitam esta zona, tais como:
- Resocialização e transferência de negócios
de provisão e comercialização de material
reciclável;
- Plano de gestão social que favoreceu a formulação
e implementação de uma série de projetos
e estratégias interinstitucionais, que permitiram
a atenção de diversos grupos populacionais
assentados na área.
Ação: Eventos culturais no espaço público
Mudanças desejadas: promover “o gozo simplório” e
o retorno ao espaço público do parque.
Descrição: “Rock no
parque”: assim
se denominaram os festivais musicais de rock ao ar livre.
Os agrupamentos participantes foram escolhidos após
uma grande convocação. Com a denominação “Jazz
no parque” se convocou todos os grupos de jovens dedicados
a esta música para que participassem de eventos musicais
com esse nome. “Rap à torta” (2) foi a denominação
que se utilizou para iniciar políticas sobre tolerância
e convivência através do rap. Foram abertos
concursos em todas as localidades e selecionados 23 dos 63
grupos aspirantes. Participaram grupos da polícia,
junto com crianças de uma região distante do
país (Urabá) e de Francia. “Rap and roll”:
estes espetáculos musicais tiveram como propósito
alcançar a tolerância e convivência entre
dois gêneros musicais que eram vistos pelos jovens
como incompatíveis. “Septimazos”: foram
atividades promovidas para revitalizar o centro da cidade,
promover o comércio na Rua Real, e gerar alternativas
para o uso do espaço público. A principal via
da cidade, a carreira 7ª, era fechada desde a Avenida
Jiménez até a Rua 24 e pavilhões eram
montados para apresentar diferentes espetáculos. “Cinema
ao espaço público”: foram projeções
audiovisuais sobre a memória arquitetônica de
Santa Fé de Bogotá.
Alguns resultados: em 1995, mais de 100 bandas se inscreveram
em “Rock no parque”; o público nos dois
dias de shows foi de 50.000 jovens. Em 1996, 120.000 jovens
escutaram 250 bandas; em 1997, 210.000 pessoas escutaram
82 bandas nacionais e 9 internacionais, e “Rock no
parque” fez espetáculos que em conjunto foram
reconhecidos por alguns dos participantes como o festival
de rock mais importante da América Latina. À versão
inicial de 1995 de “Jazz no parque” foram 15.000
pessoas e em 1997 o público duplicou. A “Rap
and Roll” assistiram perto de 3.000 pessoas em cada
noite de novena natalina, excetuando a do 24. Foram realizados
10 “septimazos” nos dois anos de execução
do projeto.
Ação: Jornadas de “Vacinação
Contra a Violência”
Mudanças desejadas: permitir o desafogo e a manifestação
de ira, tristeza e frustração por maus tratos
sofridos na infância ou em outras épocas da
vida. Aumentar a sensibilidade da sociedade em geral. Ampliar
a oferta de atenção institucional.
Descrição: a chamada “vacinação” contra
a violência consistia em um rito breve, assistido por
um psiquiatra ou um psicólogo preparado especialmente
para esse fim, onde pessoas desejosas de “vacinar-se” contra
a violência rememoravam a agressão sofrida e
descarregavam seu sofrimento mediante uma descarga verbal
ou física contra um boneco cuja cara era desenhada
com linhas do agressor. Durante a primeira jornada foi habilitada
uma linha telefônica especial. Uma gravação
convidava a quem ligava a lembrar à pessoa que mais
lhe tinha agredido e a expressar o que diria a essa pessoa
caso se encontrasse com ela. Mais de 400 pessoas telefonaram.
Nas duas jornadas participaram 45.000 pessoas e na hora em
que terminaram as jornadas em alguns lugares, compridas filas
de pessoas que esperavam para participar formavam, ainda,
longas filas. Acredita-se que o sucesso desta iniciativa
teve relação com o anterior estabelecimento
de uma associação de luta contra o mau-trato
infantil. A referida associação havia impulsionado
a formação de uma rede pública e privada
de cidadãos sensibilizados, especialistas e funcionários
que compartilhavam a convicção que os maus-tratos
de meninas e meninos é uma grave manifestação
de violência e um fator chave de sua reprodução
e persistência.
Alguns resultados: em ambas jornadas as pessoas tiveram a
oportunidade de desabafar e de manifestar sua ira e sua dor
pelo dano que outros lhes infligiram na sua infância
ou em outra época da vida. As jornadas chamaram a
atenção do Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF) e da Sociedade Internacional
para a Prevenção do Abuso e a Negligência
para as Crianças. Estas jornadas também tiveram
outros efeitos. Por exemplo, geraram uma maior integração
entre instituições que atendem às vítimas
de mau-trato infantil e facilitaram um grande conhecimento
da oferta institucional deste tipo de serviço social.
De fato, de um semestre a outro a demanda pela atenção
institucional aumentou a mais que o dobro. Se é aceita
a tese de que atualmente os maiores obstáculos à luta
pelo bom trato à população infantil
são a dispersão da oferta institucional e a
dificuldade para coordenar iniciativas institucionais, as
jornadas terão contribuído agregando um valor
que não se tinha previsto inicialmente. Umas vezes
promovida por governos locais e outras vezes pela sociedade
civil, a “vacinação” contra a violência
foi repetida, em geral e com adaptações, em
vários departamentos e municípios do país.
1. A Capital tem 20 divisões chamadas localidades,
cada uma com um prefeito local; atribui a essas localidades
um orçamento equivalente a 10% do orçamento
de investimento da cidade, excluídos os orçamentos
das empresas de serviços públicos. A
distribuição desses orçamentos
no nível de cada localidade efetua a Junta Administradora
Local (JAL), cujos membros —da mesma forma que
o Prefeito maior— são de eleição
popular.
2. Evocando o nome “A Média Torta”,
um palco muito conhecido da cidade, onde se apresentam
espetáculos públicos gratuitos.
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