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Revitalização de Centros Históricos - Barcelona

CIUTAT VELHA. O CORAÇÃO ANTIGO DE BARCELONA
Martí Abella

Em meados do século XVIII, a cidade de Barcelona, batizada como “La Barceloneta”, finalizou o processo de criação do âmbito físico e histórico da Ciutat Vella, Cidade Velha, o coração de Barcelona. Na época, a Cidade Velha viveu um processo de crescimento e plenitude. Depois veio a perda da vitalidade, o abandono por parte dos residentes tradicionais, a decadência comercial e o esquecimento por parte dos administradores.

A “Ciutat Vella” havia sido superada pela história, a modernidade avançava por outros caminhos, mais amplos, mais livres de inconvenientes. Como na maioria dos grandes centros históricos, o papel que restou à Cidade Velha foi o da representação oficial, da concentração patrimonial e da contínua decadência de qualidade de vida e de vitalidade comercial. Todos adoravam a Cidade Velha, mas preferiam construir suas casas e negócios longe daquele centro envelhecido.

A tipologia urbanística e construtiva remete a modelos superados: ruas estreitas e sem serviços, edifícios velhos sem manutenção, insalubridade e falta de arejamento. Durante 120 anos, estas características se mantiveram e seus efeitos degradantes acabaram criando bolsões de miséria e insegurança. A prostituição se vinculou à Ciutat Vella, assim como o fenômeno do consumo de drogas e do comércio ilegal, produzindo forte impacto negativo sobre os níveis de segurança e convivência cidadã. Num contexto de decadência contínua, sem perspectivas, o comércio não se renova e a atividade econômica diminui. A falta de prédios e infra-estrutura social tampouco ajuda a fixar a população, que opta por viver na Ciutat Vella somente pelos preços baixos e pela centralidade; quando tem oprtunidade, a abandona, seguindo a dinâmica iniciada no século passado.

Em1983, já com a redemocratização, foram aprovados os Planos Especiais de Reforma Interior e a Cidade Velha passou a ter um projeto pelo qual lutar. Os dois anos seguintes não foram de bonança econômica, mas serviram para constatar que uma simples remodelação urbanística não seria suficiente para deter um processo de degradação já arraigado. O resultado foi o Plano de Atuação Integral (PAI), instituição municipal que realizou um programa de intervenções de amplo alcance, incorporando ao processo de revitalização questões importantes como a segurança dos cidadãos, os serviços sociais e o apoio ao desenvolvimento econômico.

O Programa de Atuação Integral estava colocando em prática algumas ações, como campanhas para a regularização e legalização de bares e pensões, presença policial nas zonas mais sensíveis, entre outras. Além disso, havia também o compromisso de participação por parte do Estado e da Prefeitura.

A Prefeitura decidiu criar uma empresa de economia mista para possibilitar a participação da sociedade civil no projeto e aproveitar a flexibilidade de gestão da empresa privada. Fatores externos como os Jogos Olímpicos significaram um reforço importante e acabaram tendo um papel na manutenção do esforço iniciado.

Passaram-se dez anos desde o momento em que o processo de revitalização da Ciutat Vella entrou na fase de execução. O programa urbanístico fundamentou-se na obtenção de solo para transformar edifícios velhos e decadentes em novas praças, novas ruas, equipamentos para os residentes e habitação popular para as famílias afetadas com a gestão do programa.

A necessidade de voltar a abrigar no mesmo bairro as famílias afetadas conduziu a um enorme programa de construção de apartamentos de habitação popular. A empresa público-privada Promoció Ciutat Vella, S.A. incorporou novos apartamentos ao processo, sobretudo em edifícios reformados integralmente. Isso permitiu não apenas consolidar este tipo de atuação, mas também estimular a incorporação de proprietários privados ao processo de renovação. Com a execução dos planos atuais, terão sido criados mais de 2.500 apartamentos destinados aos vizinhos afetados. O programa de criação de apartamentos apoiou a construção de aproximadamente 70 novos edifícios e a reabilitação integral de outros 50.

Ciutat Vella sofria com a falta de infra-estrutura, como saneamento básico; suas redes de serviços eram obsoletas ou inexistentes. A renovação e adequação também chegou a estas esferas. Durante o período 1988-1998, foi criada uma nova rede de coleta para permitir superar tanto as periódicas inundações como os problemas derivados do antigo tamanho da rede de esgoto. Dentro do mesmo programa de remodelação da estrutura viária, as linhas de distribuição também foram renovadas pelas companhias de serviços. Atualmente praticamente toda a Ciutat Vella dispõe do fornecimento de água, eletricidade, gás e telefone.

Para poder avançar com estas provisões, foi preciso dispor de áreas de estacionamento (necessariamente subterrâneas), situadas nos perímetros dos grandes quarteirões. Foram criados 18 grandes estacionamentos em regime de concessão administrativa, com 7.500 vagas disponíveis. Ciutat Vella dispõe atualmente de centenas de ruas para pedestres e nos últimos anos foi iniciada uma política de fomento do uso da bicicleta como meio de transporte alternativo. Ciclovias e bicicletários para estacionamento já integram a infraestrutura local.

A segurança foi um dos primeiros pontos que o PAI pôs em andamento. Os anos 70 e 80 testemunharam como a convivência cidadã foi se deteriorando, sobretudo nas zonas mais afetadas pela planificação urbanística histórica. O programa significou o fechamento de mais de 200 pensões ilegais, prostíbulos e bares que geravam problemas de ordem pública ou de salubridade.

O Plano de Usos de Estabelecimentos Abertos ao Público, criado para estabelecer as condições e limitações dos distintos usos que são admitidos no distrito, tem sido uma importante ferramenta na organização e no controle das atividades que afetam a vida coletiva. A década de 80 significou, para Ciutat Vella, a radicalização de uma dinâmica antiga de abandono e esquecimento. Os comércios fechavam por razões biológicas ou de rentabilidade e não eram substituídos por outras atividades nem por novos gestores; simplesmente o local ficava em desuso e acabava sendo utilizado para um estacionamento ou armazém. Havia, no entanto, pessoas que acreditavam nas possibilidades de futuro da Ciutat Vella e que estavam dispostas a lutar para convertê-las em realidade. Organizadas em instituições, tinham força suficiente para expor seus projetos de revitalização para a Ciutat Vella.

Graças à valorização e renovação do patrimônio, pouco a pouco Ciutat Vella voltou a exercer seu poderoso atrativo para a atividade econômica, o uso residencial, e a qualificação de destino preferido para os turistas. A instalação da quarta universidade pública da Catalunya, a Pompeo Fabra, foi um importante impulso para a região. O impacto positivo significou a regeneração ambiental pela mudança de usos. Pompeo Fabra foi seguida por outras universidades: hoje na Ciutat Vella há estabelecimentos da Politécnica e da Ramon Llull. A Universidade de Barcelona prepara a implementação de seu Departamento de Ciências Humanas.

Precisamente na zona do Rava Nord, desenvolveu-se outro dos grandes pulsos revitalizantes: a cultura. Primeiro veio o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, logo depois o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. A Universidade Ramon Llull indicou o caminho a ser seguido à Universidade de Barcelona, e o Convent dels Àngels e o futuro equipamento museístico da praça dels Àngels vão se instalando na Cidade Velha. Em conjunto, formam uma zona com um potencial revitalizador extraordinário. A presença macissa de galerias de arte e de casas de restauração constitui uma boa amostra disso. A transformação na zona do Port Vell de Barcelona foi prodigiosa e o impacto produzido pela concentração de atividades lúdicas (Moll de la Fusta, Imax, Aquari, Maremàgnum) e administrativas (World Trade Center), absolutamente positivo.

Certamente essas ações tornarão a vida dos residentes destes bairros muito mais fácil e agradável. Com a finalização destes projetos, Ciutat Vella não esgota as possibilidades e necessidades de transformação, mas encerra uma etapa na qual foi imprescindível deter o processo de degradação e aprofundar as bases para um desenvolvimento equilibrado, que afaste o fantasma da decadência e do abandono. Numa segunda fase, a ênfase será dada ao estímulo à reabilitação privada. A Oficina de Reabilitação de Ciutat Vella, que tem adquirido uma experiência única e muito importante, será potencializada ao máximo.

O apoio à infra-estrutura econômica existente também será um dos eixos básicos de atuação, assim como a manutenção do esforço relativo ao trabalho social e equipamentos. Estes são outros desafios, que viabilizarão ainda mais o resgate e o desenvolvimento do Centro Histórico de Barcelona.

Martí Abella


 

 

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