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Revitalização de Centros Históricos - Barcelona

A UNIVERSIDADE E A CIDADE
Carles Carreras

Políticas Universitárias Municipais

Apesar da impossibilidade de elaboração de políticas universitárias por parte das prefeituras, a cidade tem mostrado uma profunda e explícita preocupação neste campo. Pasqual Maragall, prefeito de Barcelona entre 1982 e 1997, ficou conhecido em todo o mundo por ter sido o responsável pela organização dos Jogos Olímpicos de Verão de 1992. “Ao longo da história, a relação entre a Universidade e os poderes públicos foi tensa e conflitiva. É justo afirmar que foram repetidamente os poderes, civis e religiosos, os que criaram os conflitos e limitaram a atuação da outra parte, por fazê-la ceder naquilo que constitui a mais genuína das suas liberdades: o uso da crítica intelectual e moral”, escreveu no livro Universidade de Barcelona, em 1991. E completa afirmando que a relação cidade-universidade precisa ser revisada para que cada uma possa oferecer o melhor em cada momento: “A cidade oferece serviços e o ambiente urbano da universidade, que, apesar dela mesma ser um serviço, oferece uma animação humana e cultural que dá vida aos bairros que contam com a sua presença”.
Estas idéias deram início a uma nova colaboração entre a Prefeitura e a Universidade de Barcelona, com o objetivo de reintroduzir a Faculdade de Geografia e História no Centro Histórico da Cidade. Este é um exemplo concreto da colaboração entre as duas instituições - Cidade e Universidade - no desenvolvimento urbano, econômico e social.
O prefeito Joan Clos, que substituiu Pasqual Maragall, teve um papel relevante na formulação de uma das idéias do novo projeto de Barcelona como cidade do Conhecimento, seguindo orientações do III Plano estratégico, econômico e social da cidade. Um dos itens, que estabelece um novo desenho urbano para o século XXI, recebeu uma atenção especial quanto aos recursos humanos da cidade, além de uma sólida infraestrutura de transferência de tecnologia com uma clara orientação ao reforço das novas atividades econômicas.
Em relação às universidades, as propostas do plano sugerem, entre outras ações, impulsionar a modernização e a eficiência das universidades da região metropolitana de Barcelona quanto aos serviços prestados, aumentar os recursos públicos e privados destinados a ela, equivalendo-os à média da União Européia e, por fim, elaborar um plano de ação para atrair instituições líderes mundiais que atuem no campo técnico-científico.
Como maneira concreta de aplicar algumas destas propostas, a Prefeitura liderou o desenvolvimento dos planos de realização do Fórum Universal da Cultura Barcelona 2004, em colaboração com a UNESCO. Tem como objetivo formar um dos grandes portais do conhecimento de Barcelona, Buscando não apenas os aspectos infra-estruturais, como a expansão do número de laboratórios, mas também contando com pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento.

A Cidade como Recurso Cultural e Educativo

Com a colaboração de professores locais e de geógrafos, o doutor Trilla está realizando o mapa educativo de Santa Coloma de Gramenet, que deve avançar de maneira importante no conjunto de idéias implicadas. A elaboração de itinerários urbanos, destinados à aprendizagem de jovens e adultos, que percorrem escolas, associações de moradores e museus, configura um outro tipo de concretização. Estes itinerários pedagógicos podem ter um aproveitamento econômico caso se dirijam a um público visitante, convertendo-se em verdadeiros passeios turísticos – um desdobramento do chamado turismo cultural.
No caso de Barcelona destacam-se iniciativas como o ônibus turístico e seus itinerários do modernismo e o programa Walking through Barcelona, criado em 1997 pela Universidade de Barcelona e voltado aos turistas norte-americanos.
A elaboração de um primeiro Inventário dos Elementos de Interesse Paisagístico de Barcelona, financiado pela Agência de Paisagem Urbana e de Qualidade de Vida da Prefeitura de Barcelona entre os anos de 1998 e 1999, partiu da concepção de cidade como um enorme e dinâmico palimpsesto, numa alusão ao papiro cujo texto primitivo foi raspado para dar lugar a outro. Utilizando-se dessa metáfora, a cidade teria uma grande quantidade de revestimentos informativos sobre a vida social, cultural, econômica e política do presente e do passado.
Mediante a combinação das análises convencionais das fontes bibliográficas e fotográficas com um longo e paciente trabalho de observação direta, assim como a apreciação das sugestões que os diversos cidadãos enviaram através de uma campanha feita nos diferentes meios de comunicação, uma equipe universitária chegou à catalogação de 154 elementos da paisagem barcelonesa. Procurou-se que estes elementos fossem relativamente bem distribuídos por todo o espaço urbano. O Centro Histórico e a cidade do século XIX, pelo seu extenso período de acumulação histórica, alcançaram um maior número de marcos urbanos. São fragmentos de fachadas, lojas antigas, estátuas, árvores raras e diferentes tipos de símbolos urbanos. Depois de identificados e documentados, esses elementos foram submetidos a um processo de seleção com representantes da prefeitura e da universidade, que avaliaram a subjetividade com que os cidadãos percebem ou se identificam com cada um dos elementos.

O Retorno ao Centro: as universidades como agentes “gentrificadores”

As universidades, especialmente as européias, são, ainda hoje, infra-estruturas predominantemente urbanas; mesmo as mais antigas localizam-se nas regiões centrais das cidades. A febre descentralizadora não afetou todas as universidades nem todos os países da mesma maneira; as menos afetadas foram as tradicionais cidades universitárias, de dimensões médias, como Coimbra, Salamanca ou Santiago de Compostela.
O caso mais significativo, entretanto, aconteceu em Bolonha, que é provavelmente a primeira universidade do mundo. Durante os anos de desenvolvimento e de segregação funcional, foram oferecidos à velha universidade de Bolonha terrenos na periferia da cidade. Alguns centros, sobretudo os de ensino técnicos, concordaram com a mudança, mas a universidade, em conjunto, não apenas não quis sair, como prometeu criar um novo modelo de universidade urbana, além de contribuir para a reabilitação de toda a cidade histórica, mantendo lá boa parte de seus funcionários. Assim, o modelo urbano e universitário de Bolonha, em grande parte graças ao prestígio e à influência da Escola de Arquitetos e Urbanistas italianos, tornou-se um modelo difundido internacionalmente.
Com o surgimento dos movimentos autodenominados pós-modernos, juntamente com as correntes de renovação urbana, o modelo de Bolonha tomou nova força. Os velhos edifícios universitários, que ainda eram mantidos nos centros das cidades, permitiram que se tomasse consciência do seu valor. Além disso, outros prédios obsoletos, reestruturados para outros usos, começaram a ser modificados para funções universitárias.
Neste marco geral, é preciso situar a colaboração das novas autoridades democráticas locais da cidade de Barcelona e as novas universidades, todas elas autônomas desde a lei de 1984. A Universidade de Barcelona tem o intuito de consolidar o centro da cidade com a instalação da Faculdade de Biblioteconomia na antiga Escola de Magistério, completada com um centro de formação do pessoal. Também reforça as funções do velho edifício da praça da Universidade com a mudança das faculdades de Filosofia e de Geografia e História para Raval, em frente ao Centro de Cultura Contemporânea.
Frente à limitação do mercado, demograficamente decrescente, este fato leva as universidades a competirem entre elas em excelência. A abertura ao mercado internacional é uma estratégia que, a médio prazo, deve reconduzir esta competência inter-universitária a terrenos cientificamente mais produtivos. Daí a importância da imagem internacional da cidade, que as atividades universitárias ajudam a gerar e a manter.
A tradição de relações internacionais das universidades barcelonesas está em estreita conexão com as políticas de internacionalização que a cidade tem empregado há anos. No entanto, a avaliação dos resultados é complexa, pois cada universidade tem uma rede própria de relações internacionais. Existe uma iniciativa pioneira, o Barcelona Centro Universitário, que conseguiu aglutinar todas as universidades barcelonesas com a Prefeitura de Barcelona e o Governo da Catalunha. O BCU realiza a tarefa de acolhida dos estudantes estrangeiros – oferecendo alojamento e integração cultural – e a promoção da cidade atraindo novos universitários, com a divulgação de diversos materiais. Ainda não há uma informação integrada sobre todos os estudantes estrangeiros que vivem em Barcelona, em que universidades estudam e onde residem na cidade. As cifras do BCU indicam, entretanto, magnitudes qualitativamente significativas: 3500 estudantes estrangeiros em Barcelona em 1997, majoritariamente dos programas Sócrates e Intercampus; 4500 em 1998, e 6500 no curso de 99/00. De julho a outubro de 2000, o BCU atendeu 850 estudantes estrangeiros, 87% deles conseguiram alojamentos; destes, 45% estavam na Universidade de Barcelona, 34% na Politécnica da Catalunha, 10% na Pompeu Fabra e o restante nas outras universidades.
Estes números mostram claramente a atração internacional universitária da cidade e assinalam um novo impacto sobre o mercado imobiliário e sobres as reestruturações sociais. Isso porque estes estudantes estrangeiros têm um papel fundamental nos processos de “gentrificação” (valorização de uma região por conta de moradores com maior poder aquisitivo) em marcha. O mapa da residência dos estudantes Sócrates, um tipo de bolsa de estudos oferecida a estudantes estrangeiros, da Universidade de Barcelona no período de 1999/00, mostra claramente este efeito no predomínio dos distritos postais que correspondem a áreas urbanas com processos de “gentrificação). Por outro lado, este elemento terá um impacto no mercado de trabalho local, pois a integração européia permite a muitos destes estudantes ficar e trabalhar em Barcelona ou na Catalunha, em um novo “brain drain” de maiores dimensões. Ou seja, em Busca de melhores condições de trabalho, pesquisa ou estudo, esses estudantes acabam deixando seus lugares de origem e estabelecendo-se em regiões específicas.
Outro índice de internacionalização é o ranking de publicações científicas dos universitários de Barcelona. De acordo com o estudo dos geógrafos dinamarqueses, Matthiessen e A.W. Schwarz, entre 1994 e 1996 Barcelona ocupava a 25ª colocação da Europa em números absolutos e o 29º em números de artigos por habitantes. A maior parte das publicações científicas barcelonesas era da área de Medicina geral.

O Portal do Conhecimento de Barcelona, um exemplo concreto de cidade do conhecimento

Falar de portais do conhecimento significa tentar estar em linha com a concepção da universidade como núcleo central da inovação tecnológica. Isso inclui tanto as estratégias de investigação em colaboração com empresas dos setores público e privado, como também a tarefa docente de formação de novos graduados como empreendedores que possam desenvolver comercialmente suas idéias e conhecimentos. Mesmo Barcelona estando muito distante dos conhecidos exemplos americanos do Silicon Valley, ou da auto-estrada 124 de Boston, o modelo já está em andamento e tem dado alguns frutos. O planejamento estratégico da cidade de Barcelona facilitou este início. O exemplo aqui estudado mostra os frutos da colaboração entre universidades e entre universidade e administração local.
Quando a prefeitura de Barcelona lançou, em 1999, a idéia de converter os terrenos e as infraestruturas do Fórum Universal das Culturas em um Portal do Conhecimento, as universidades de Barcelona e a Politécnica da Catalunha reagiram rapidamente para mostrar como elas, sozinhas, já haviam criado um outro Portal do Conhecimento no setor ocidental da cidade. O estudo deste exemplo permite iluminar as complexas relações simbióticas que existem entre cidade e universidade num plano mais geral. Foi nomeada uma comissão com representantes das universidades para redigir o plano diretor de todo o setor, que inclui, além dos universitários, outras construções importantes, majoritariamente esportivas.
O Portal do Conhecimento mostra a grande relevância das tarefas docentes e de pesquisas básicas e aplicadas que se realizam neste setor e que constituem um verdadeiro portal de informação, com a possibilidade de se navegar, como na internet, por diferentes e variados campos disciplinares, complementares e até contraditórios. Ao mesmo tempo, o nome também destaca a importância que Barcelona concede ao desenvolvimento do conhecimento. Neste sentido, é preciso entender as propostas do plano diretor, que Busca sublinhar este duplo papel com a construção de um tipo de estrutura que permita aos interessados visualizar o caráter desta porta ocidental na entrada da cidade.
O Portal do Conhecimento foi formado, no período 1999-2000, por 34 centros distintos das universidades de Barcelona, Politécnica da Catalunha e Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC). No total, trabalham 3.882 membros da academia e 226 da administração e serviços; são 6.148 pessoas envolvidas no programa, sem contar o pessoal terceirizado, que trabalha nos bares, copiadoras, limpeza e segurança, e em alguns centros não estritamente universitários (CSIC, Fundação Bosch Gimpera). Os estudantes, por critérios estatísticos, também não foram contabilizados, embora façam regularmente seus trabalhos durante um período do ano.


 

 

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