ESTRATÉGIAS CULTURAIS E RENOVAÇÃO URBANA
Uma das principais estratégias de unificação cultural de Barcelona foi manter e mesmo reinventar os eventos comunitários, com o intuito de favorecer uma convivência ampla e intensa entre as pessoas. Festas, rituais, cerimônias comunitárias, religiosas ou profanas, são exemplos desta prática, como também foi a recuperação das festas populares realizadas nos bairros da cidade. As celebrações festivas em locais públicos contribuem de maneira significativa para a valorização do espaço público e, conseqüentemente, para evitar alardes em zonas problemáticas da cidade.
A política cultural aplicada pela Prefeitura de Barcelona no período de 1979-1997 potencializou programas culturais de caráter popular. Tal medida facilitou a expressão e a criatividade social, que, simultaneamente, reforçaram a coesão urbana.
A convivência pacífica e diversificada de pessoas, com suas crenças religiosas, ideológicas, origens étnicas e estilos de vida, contribui para o enriquecimento cultural dos cidadãos, já que interesses contraditórios sempre germinaram e se desenvolveram em formas democráticas de organização social e política.
No entanto, para uma grande cidade apaziguar estes tipos de segregação, especialmente a do fator econômico, é necessário desenvolver mecanismos de integração indivíduo-comunidade, como forma de combate à desigualdade e à marginalidade. Os grupos sociais desempenham esse papel: fazem com que o cidadão se sinta inserido no ambiente.
Cidade Velha
Grandes cidades com centros de informação e de serviços têm de julgar a cultura como fundamental para o seu desenvolvimento. Mais do que oferecer uma variedade de opções culturais, espetáculos e museus com prestígio turístico, a cidade deve ter a capacidade de reciclar e exportar idéias, ou seja, realizar ações que a qualifiquem na concorrência internacional.
Barcelona, uma cidade com história e riqueza patrimonial, produz situações como a da Cidade Velha. Localizada em uma área histórica, demograficamente inválida e economicamente empobrecida, com habitações precárias, a Cidade Velha transformou-se em um novo ambiente. A revitalização da zona portuária, com a implantação de várias atividades, sobretudo de serviços culturais e comerciais expoentes da criatividade urbana, foi a maneira utilizada para a erradicação dos núcleos de marginalidade.
Reconectada à Cidade Velha, Barcelona transformou-se numa grande cidade histórica. A revitalização e reabilitação urbana foram primordiais para transformar seus bairros antigos, que tinham sérios problemas de marginalização econômica, social e cultural, em novos ambientes abertos à visitação.
Ações complementares
Em uma cidade altamente compactada, submetida a fortes especulações e debilmente equipada como Barcelona, herança do Franquismo, as ações políticas desenvolveram-se por meio de uma série de atuações complementares:
- Melhora da acessibilidade e integração física entre o centro e a periferia;
- Preservação e modernização de edifícios e espaços públicos de interesse histórico;
- Reutilização de vilas industriais normalmente situadas em zonas menos favorecidas da cidade (como fábricas obsoletas, depósitos ferroviários)
- Potencialização das áreas relativamente marginais;
- Reconstrução e criação da memória histórica por meio de projetos específicos de monumentalização.
Um exemplo de aquisição política foi a criação de equipamentos cívico-culturais de bairros. Estes centros são instalados de forma sistemática em edifícios antigos, como fábricas ou cooperativas e palacetes residenciais. A reabilitação e remodelação dos centros cívicos retomaram, de forma coletiva, a história e os símbolos locais.
Aspirações Modernistas
Barcelona impulsionou a modernização de sua indústria em nome da cidade velha medieval. A cidade reutilizou algumas partes do traçado original preservando, assim, parte substancial do patrimônio construído, priorizando o crescimento local. Não houve conflitos nem resistências com relação aos projetos de planejamento urbano, o que permitiu reviver êxitos artísticos do século XIX, como, por exemplo, Idelfons Cerda, e depois a eclosão do Modernismo no final do século XIX e princípio do século XX.
Não é casualidade que o estilo arquitetônico e artístico da burguesia barcelonesa do final do século XIX expresse a sublime riqueza e as aspirações do Modernismo, um movimento com inovações mais atrevidas e técnicas, além de formas com estilos tradicionais e medievais. Também não é coincidência que Barcelona tenha emergido nos anos 60 e 70, com a redescoberta do legado modernista.
A cidade tem grandes instituições culturais. Algumas são de origem privada, como o Grande Teatro do Liceu e o Palácio da Música. Outras, como a quase totalidade de museus e bibliotecas, funcionam graças à participação e suporte das administrações públicas.
A Fundação Miró, a Fundação Tàpies e o Museu de Arte Contemporânea são frutos de uma colaboração de sucesso entre os artistas locais, o governo regional e o setor privado.
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