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Revitalização de Centros Históricos

REVITALIZAÇÃO DE CENTROS HISTÒRICOS
Adrián Pandal, Diretor-presidente da Fundação Centro Histórico da Cidade do México"

12/12/2005

Muito obrigado pelo convite, nós nos sentimos muito orgulhosos de termos sido considerados para este... Quatro anos é pouco tempo, sentimos que as bases são sólidas para que continuem com o projeto que, sem dúvida, é um plano de longo prazo. Agradeço a Raul [Juste Lores – Secretaria Municipal de Relações Internacionais], Helena [Gasparian – Secretária de Relações Internacionais do Município de São Paulo] e todos vocês por estarem aqui, também pelo convite. Peço desculpas por fazer a apresentação em espanhol mas que a próxima vez que nos vermos [espero que eu] possa falar com vocês em português.

O vídeo [apresentado no começo da exposição] infelizmente está em inglês, mas explica um pouco como se desenvolveu o projeto. Concordo com Raul que se encontra muita semelhança entre a situação de São Paulo e Cidade do México, cidades com mais ou menos as mesmas características, a mesma população, somos em torno de vinte milhões na área metropolitana, com um Centro em decadência que as pessoas foram abandonando, esvaziando. Os mexicanos consideravam o Centro um lugar sujo, perigoso, que não valia a pena visitar, longe... para a percepção das pessoas era um lugar longe que estava fora [de mão], porque a cidade havia crescido para um outro lado.

Este projeto nasceu com a iniciativa do prefeito, do chefe de governo da Cidade do México, é um pouco o que Raul comentava [na apresentação do convidado]... a decadência começa nos anos 50 quando o crescimento da cidade – México é igual a São Paulo, cresceu muito rapidamente nos últimos cem anos – e a “evolução” da cidade acontece normalmente pelas periferias, nas áreas conurbadas, e houve um abandono [do Centro Histórico]; o primeiro impacto importante foi a saída da Universidade Nacional [do México] com seus milhares de estudantes que foram para o sul da cidade. Estes estudantes geravam toda uma vida no Centro histórico, nos cinemas, cafés, lojas, apartamentos, etc... então em 1956 a Universidade Nacional se transfere para um campus feito especialmente para ela, e deixa vazios os edifícios, que foi um primeiro golpe para o Centro Histórico. Posteriormente as instituições financeiras começaram a abrir novas sedes fora do Centro histórico, centros comerciais, escritórios, etc... até que, finalmente, em 1985, com o terremoto que afeta seriamente o Centro histórico, acabar por tirar as poucas pessoas que ainda moravam lá, e a partir de então, começa um processo de despovoamento contínuo. Desde então ocorreram três tentativas de resgatar o Centro histórico, mas, por diferentes razões, não foram concluídas.

Eu percebo que a diferença neste projeto que foi levado a cabo é a participação pública-privada e, em especial, a participação pública no nível federal e no nível local. Acredito que esta foi uma das únicas parcerias entre o Presidente e o Prefeito, pois são de diferentes partidos, que tinham muitas controvérsias e muita disputa entre si, mas no Centro histórico estiveram de acordo e percebemos que um projeto como este é um projeto que une. É muito difícil quando se resgata uma área histórica tão importante para um país e para um estado, como é o caso de São Paulo, se gere controvérsias, porque todos o brasileiros querem um bom Centro histórico, assim como no México todos queriam recuperar o Centro histórico. É uma coisa bastante simbólica pois é uma coisa de identidade importante para a cidade e para os seus habitantes.

O que acontece quando o Chefe de Governo convida o empresário Carlos Slim para participar deste projeto é que a primeira coisa instituída foi um Conselho Consultivo que tem mais de cento e vinte membros e foi, de tal maneira, aberto que todos podiam participar com sugestões, idéias, comentários, com trabalho... e está aberto a empresários, arquitetos, urbanistas, intelectuais, artistas e formadores de opinião. É muito diversificado. A idéia é de que todos que quisessem participar, que poderiam participar. Depois disto, para o trabalho e desenvolvimento do Plano Diretor [Plan Maestro] - pois seria muito ineficiente trabalhar com cento e vinte e cinco pessoas - se criou um Comitê Executivo, formado por três representantes do Governo Federal, O Secretário de Turismo, o Secretário de Cultura – porque tem [a cultura] uma influência muito importante no Centro Histórico, a maioria dos edifícios no Centro histórico do [Cidade do] México são Patrimônio da Humanidade e a [pasta da] Cultura intervêm nas permissões para as obras... são edifícios protegidos e tem que ter uma licença para se fazer mudanças – a idéia do Comitê Executivo é que participem [dele] todas as pessoas que tem uma ingerência direta sobre o Centro histórico porque sempre depende dos homens criar a licença, a permissão das autoridades porque não poderíamos trabalhar se não tivéssemos o apoio das autoridades, então tinha o Secretário de Cultura e o Secretário Particular do Presidente. No nível local estava o Secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitacional, que é aquele que tem competência sobre as políticas de habitação, os edifícios para interesse social etc, também o Secretário de Turismo e o Secretário de Governo que de alguma maneira tratam de outros temas como a segurança. E, da sociedade civil, convidaram o Cardeal – uma vez que no México a Igreja tem um peso muito, muito forte. Dentro do Centro histórico existem mais de setenta igrejas, que têm uma atividade muito grande – um historiador, Guillermo Tovar de Teresa, que é a pessoa que mais conhece sobre a história e o desenvolvimento da Cidade do México; um jornalista, Jacobo Zabludovsky, que nasceu e cresceu no Centro histórico, lá estudou, que o conhece muito bem, e, além disto, é um formador de opinião, uma pessoa pública, que muito nos apoiou na divulgação das informações e nas mensagens para a sociedade, e, posteriormente, o engenheiro Carlos Slim, que é um empresário muito conhecido no México, tendo uma grande capacidade de gestão e de [atração de] apoio através de suas empresas.

Este Comitê nasce com a idéia de desenvolver um plano de trabalho, se reúne uma vez por mês, quando toma a decisão... “o que está funcionando, o que não está funcionando... o que podemos mudar, o que não podemos mudar”, e assim, como havia dito, vai se desenvolvendo o trabalho.

No que consiste o Plano? Bem, o ponto número um, que não quero me adentrar muito, é o problema da água, que é um problema seriíssimo no México, que é uma zona de lagos que vem sendo explorada de maneira excessiva nos últimos quinhentos anos, e hoje em dia temos o problema muito sério do déficit de água que teremos que solucionar mas é um tema que não quero me estender pois é um problema particular do Centro histórico da Cidade do México.

O segundo ponto seria referente aos serviços: para que possamos trabalhar no Centro histórico necessitamos primeiro trabalhar com a segurança, principalmente. O tema da segurança no México é um tema muito importante, especialmente no Centro histórico; onde se tem a sensação de que é um lugar muito inseguro. Então, se trabalhou com as autoridades e foi feito um projeto específico, a área foi tratada como se fosse uma zona protegida e nesta zona há uma polícia treinada especialmente, melhor paga - cujo incremento [salarial] é bem pequeno para o efeito que tem - e com melhores equipamentos de comunicação apoiados por um sistema de câmeras, que tem sido muito eficiente; estas são colocadas na parte alta dos edifícios, têm um zoom de quinhentos metros e que nos permite monitorar perfeitamente o movimento nas ruas. Com estas câmeras nos demos conta que os assaltos eram praticados pelas mesmas pessoas, nas mesmas ruas, no mesmo horário, que já estavam operando há quinze anos na mesma região... eles saiam correndo e entravam na vizinhança em que viviam. Então, do dia para noite pudemos acabar com certos bandos e, praticamente, solucionar o problema.

O que queremos agora é provar que [o Centro histórico] é a zona mais segura do México... não se media a insegurança no Centro histórico, agora temos uma medição semanal por rua, por zona, por tipo de assalto... teremos um levantamento de como operam e poderemos, praticamente, reduzir [a violência] à zero. É difícil pois há coisas extemporâneas, inconvenientes, mas como é uma zona muito limitada – são quatro quilômetros quadrados – é viável, pois não estamos falando de uma zona enorme. Então colocaram alarmes em diferentes pontos – são treze alarmes – estes tem um botão que basta ser apertado que terá um operador do outro lado, para uma emergência, informação turística ou para um problema viário, de um carro ou de algum acidente.

Uma estratégia utilizada foi de nunca falar das coisas até que estas constituíssem uma realidade. Nós começamos com o trabalho no Centro histórico e nunca falamos dos planos, os fatos estavam falando por si mesmos, as pessoas eram as encarregadas de falar aos vizinhos: “está mais seguro, melhor”.

Melhora da iluminação. Era uma zona muito escura e abandonada, pusemos o dobro de postes de iluminação, aterramos todos os cabos, e uma melhor coleta de lixo, banheiros públicos – não havia banheiros públicos, as pessoas tinham que fazer suas necessidades em uma esquina, o que gerava mau cheiro, um má aparência, etc.. – providenciamos que houvesse mais estacionamentos, uma tarefa que não é tão fácil pois se tem que trabalhar com agentes privados e fazê-los mais eficientes e dar-lhes alguns benefícios. Basicamente a idéia aqui é melhorar os serviços. Foi um trabalho do governo local, que destinou recursos para estas atividades, um investimento por parte da cidade.

O passo seguinte foi o de melhorar o nível econômico e social das pessoas. Eu diria que para nós mais que resgatar uma área – eu creio que no passado foram tentadas algumas ações para resgatar uma zona mas se enfocavam os edifícios, se chamava de Resgate do Centro histórico mas se pensava num edifício, então reformavam o edifício que terminava novo e restaurado, e era destinado a ser um museu, ao lado de outro museu... então, hoje em dia o Centro histórico conta com mais de setenta museus, há museus de todos os tipos, mas um museu não gera vida. Para nós a peça chave da revitalização é enfocar nas pessoas. Isto quer dizer enfocar nas pessoas que vivem e trabalham na área, as pessoas que convivem na área, e por isso foi criada a Fundação do Centro Histórico que é uma fundação privada que tem sido muito eficiente porque nós conseguimos uma quantidade de recursos de outras instituições, recursos locais e internacionais, dispostos a trabalhar, fazer um projeto sólido e sério. A idéia desta Fundação é melhor o nível social e econômico das pessoas que estão no Centro histórico. Antes de atrair pessoas de fora [do Centro] pensamos que deveríamos trabalhar com as que lá estão para que eles lucrem com a nova economia e façam parte do desenvolvimento. Então aquilo que fazemos é... temos uma rede de mais de cem voluntários da própria comunidade que trabalham conosco de maneira voluntária e que nos relatam os problemas da área.

Nos demos conta que por causa da pobreza havia uma desestruturação familiar muito forte, as mães tinham que trabalhar então deixavam os filhos sozinhos os quais, com doze ou treze anos de idade, entram em gangues, têm problemas de alcoolismo, de vício em drogas, de ruptura familiar... o que fizemos? Promovemos os esportes, centros culturais, associações onde as pessoas.. são centros comunitários, centro de leitura, atividades ao ar livre, concertos, etc... e lhes oferecemos também bolsas, micro-créditos (imagino que vocês conheçam o modelo) que basicamente são grupos de seis a dez pessoas com uma idéia de empresa, um crédito, que dura nove trimestres até que eles consolidem seus negócios e sejam independentes. Trabalhamos com hospitais, com donativos de remédios, financiamos operações. Basicamente o que tentamos é trabalhar com a comunidade e, de alguma maneira, resolver suas necessidades. Isto é muito importante porque os beneficiados participam e vêem com bons olhos o desenvolvimento da área.

O ponto seguinte é a parte da revitalização. Esta seria a parte medular do projeto, digamos, que implica em trazer mais pessoas para viver, mais pessoas para trabalhar, mais pessoas para desfrutar o Centro histórico e também trazer novas atividades. Como fizemos para revitalizar a área? O primeiro... embasados num plano em que pudemos ver a infra-estrutura existente no Centro histórico, onde estavam localizados os teatros, os museus, as salas de concerto [auditórios] etc... pudemos desenvolver um plano de trabalho e formamos corredores com diferentes atividades. Em uma zona onde havia uma universidade, de humanidades, nós a denominamos de corredor cultural, e nesta zona, que são três quadras, temos fomentado atividades de estudantes, de artistas, de intelectuais, e de jovens, principalmente.

Perdão, farei um pequeno parêntesis aqui. De maneira privada temos dois instrumentos: a Fundação, que é uma fundação que apóia todas estas tarefas que eu expliquei, e foi criada uma empresa que comprou edifícios para restaurar. Esta empresa se colocou no mercado de tal maneira que [tem] seiscentos acionistas... Esta empresa comprava imóveis a preço muito acessível pois o Centro histórico estava abandonado - fazia um edifício novo, com as mesmas características, que valeria o dobro. Bom, ela comprou mais de setenta e cinco imóveis (eu diria que cerca de 80% já estão restaurados). No corredor cultural nos temos apoiado a abertura de galerias, pequenos cafés, tem de tudo... desde escritórios de arquitetura, jovens que trabalham com a internet, designers, pintores, livrarias, etc... aqui nos dirigimos a qualquer pessoa que tenha projetos contemporâneos, modernos, interessantes, e os enviamos a esta área. É uma zona mais acessível, assim teremos aluguéis para estudantes. Compramos um par de hotéis que era um dos centros de prostituição e de consumo de drogas (no México chamamos os hotéis de “paso”) e os convertemos em uma espécie de campus para estudantes que por cento e cinqüenta dólares ao mês, em torno de trezentos reais, os jovens podem ter um quarto, mobiliado, com direito à faxina, então, como está perto da universidade, e também perto do metrô que leva à Universidade Nacional (e nos asseguramos que fossem jovens aqueles que alugavam) então isto marcou a zona como um ambiente interessante [para os estudantes] e é um motor que, sozinho, atrai novos conceitos.

Há uma outra zona que estava invadida pelo comércio ambulante que vendia eletrônicos, softwares, computadores, etc... e o que fizemos foi um corredor que denominamos “corredor tecnológico”. Aqui convidamos para ocupar essa área empresas de telecomunicações, fábricas de softwares, call centers ... há um incentivo fiscal – no México existe um imposto sobre emprego de 2% - quem se muda para o Centro histórico tem uma redução de 50% neste imposto. Os call centers e as fábricas de software normalmente são lugares que têm centenas de jovens, em todos os serviços de telefonia [a média etária é] entre 22 e 28 anos, isso é muito importante pois os jovens são os mais suscetíveis a mudanças e também porque eles aceitam viver nesta área. Então, neste corredor tecnológico foi gerado mais de 4.000 empregos, principalmente para jovens que estão terminando a faculdade e podem ser uma espécie de sementes para que, no futuro, permaneçam vivendo na área.

Depois temos um corredor que chamamos de financeiro. É aqui que estavam os bancos, instituições financeiras, os bons museus, e é uma zona mais elegante, por assim dizer ... – está a duas ou três quadras do outro bairro, não acho que seja uma diferença importante, simplesmente tem edifícios de melhor qualidade, antigos bancos com mármores, piso de madeira, pé-direito alto... então aqui foi onde fizemos apartamentos para a classe média-alta e alta; bons restaurantes, bons cafés, boas lojas, e um volume de negócios de advogados, profissionais liberais, escritórios de arquitetura de melhor nível.

E finalmente há um corredor chamado corredor de entretenimento que está na Praça Garibaldi. Tem três ou quatro teatros e o que Buscamos – mas é onde estamos mais atrasados - é uma opção de entretenimento noturno variado; que tenha teatro, shows, muitos bares, etc, para que na noite haja uma atividade recreativa para o turista ou para os habitantes locais.

Então, desta forma pudemos gerar mil e quinhentas novas casas, que estão realmente ocupadas. Alugamos sempre 20% abaixo do preço de mercado de outras zonas para que seja um atrativo à mudança, e o que nos demos conta é que, deu trabalho [ter] os primeiros inquilinos; me custou muito convencer os mexicanos. Os primeiros a entender o projeto e participar foram os estrangeiros, que nos seus países já tinham visto a recuperação e desenvolvimento do Centro histórico e que [por isso] apostavam [neste projeto]. Ademais, o Centro histórico tem uma infra-estrutura – pelo menos no México, não quer dizer que aqui seja similar - tem oito estações de metrô, que estão perto de muitos lugares. A impressão de estar longe não é verdadeira, está perto do aeroporto, perto de diferentes bairros, tem hospitais, museus... tem uma vida cultural muito rica. Então, para um estrangeiro ele diz: “isto aqui é bom pois aqui tenho uma sala de concerto, museu, galeria, um preço acessível, subvencionado...” . Meus primeiros inquilinos foram estrangeiros, posteriormente vieram os mexicanos, e hoje em dia temos desenvolvimento, já é uma realidade porque tem pessoas que estão satisfeitas porque estão vivendo no Centro histórico.

Na realidade sentimos que para o projeto foi importante ter um plano de trabalho definido, assim os investimentos privados se multiplicaram. Acredito que o modo como as coisas se desenvolveram, a participação pública-privada, tendo um empresário por trás foi importante, mas pouco tempo depois as coisas já caminhavam [por si mesmas] e os mesmos proprietários começaram a reformar seus edifícios, a investir na área, e isto gerou uma confiança que foi se multiplicando.

A idéia é ser criativo, experimentar, ter claro um caminho e ir testando diferentes coisas. E dar certeza às pessoas que é um projeto de médio e longo prazo onde todos serão beneficiados. Os que vivem na área se beneficiam porque vão se integrar àquilo que está em expansão; os que têm imóveis e aqueles que investem na área vão se beneficiar porque vão gerar renda e dividendos; o governo porque gerará incentivos fiscais e uma vez que a área se regenera, arrecadar-se-ão mais impostos; sentimos, por isso, que é um modelo muito benéfico, que a sociedade vai se beneficiar por ter um Centro histórico mais digno, uma identidade, etc... então, realmente, sentimos que fomos por um bom caminho.

Agradeço pelo convite.

Muito obrigado


 

 

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