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Habitação Popular

UM EXEMPLO DE PARTICIPAÇÃO E RENOVAÇÃO URBANA: A REMODELAÇÃO DE BAIRROS EM MADRI

Desde meados dos anos setenta e durante a década seguinte, o município de Madri transformou profundamente a periferia do sudeste, na qual residem os setores de população com menor renda. Foram erradicados os assentamentos de sub-habitação (favelas e moradia pública em ruína), que haviam crescido nas décadas precedentes, fruto da forte imigração rural experimentada nos anos cinqüenta e sessenta.
A situação dessas habitações era extremamente precária. As promoções de moradia pública, levadas a cabo sem um bom planejamento e com recursos escassos, foram originalmente concebidas, em sua grande parte, como alojamentos provisórios que se transformaram em permanentes. Em muitos casos, as habitações não superavam os 35m² de área útil e, à medida que transcorreram os anos, experimentaram um acelerado processo de ruína. Favelas levantadas da noite para o dia sobre solos rústicos de tamanhos muito restritos, divididos pelos seus proprietários, abrigavam várias famílias e não ofereciam nenhum tipo de serviços nem infra-estruturas básicas (água, luz, rede de esgoto...).
O processo de remodelação urbana implementado teve um impacto sobre 30 bairros muito diferentes entre si, com um total de 39.000 moradias construídas para uma população de cerca de 150.000 pessoas. Com esse processo, Madri passou a contar com bairros afastados bastante integrados no contínuo urbano, com qualidade habitacional. As novas moradias foram construídas pensando-se em uma cidade. Peças inteiras do município, como Columbófilas e Pozo del Tío Raimundo no distrito de Vallecas, ou a zona de Orcasitas em Villaverde e Usera, mudaram radicalmente sua imagem urbana.
As novas habitações substituíram as antigas mediante condições de financiamento acessíveis para famílias com baixo nível de renda. Os espaços e o solo sobre os quais construir eram elementos cruciais do projeto. Não se trata somente de obter uma moradia em qualquer parte de uma metrópole que já é demasiado grande. O espaço já ocupado adquire um valor real e simbólico de primeira magnitude. Geraram-se comunidades vizinhas que não desejavam desmembrar-se, e a reivindicação da moradia representava, na verdade, a de um novo bairro. O diálogo entre as associações de vizinhos e os técnicos foi marcante no projeto. Pela primeira vez o conceito de participação da comunidade se encheu de sentido através da gestão concreta.
Um dos muitos códigos que explicam o sucesso da Remodelação reside na eficiente articulação entre a associação de bairros, os técnicos que desenham as moradias e os novos bairros, e os diferentes organismos da administração que intervêm no processo. A remodelação de bairros se transformou desde o primeiro momento em uma oportunidade única para re-urbanizar a periferia madrilena. A área afetada, 837,8 ha., o número de moradias produzidas, quase 40.000, davam à operação uma massa crítica suficiente para incidir de maneira importante no conjunto da cidade, transformando sua própria imagem.
Os bairros resultantes se incorporaram com sucesso ao contínuo urbano. A melhora das comunicações permitiu uma acessibilidade razoável. A generosidade nos equipamentos educativos, culturais, sanitários e sociais permitiu cobrir as necessidades da população residente. De certo modo, e em termos gerais, se os bairros remodelados contradizem seu ambiente, é precisamente pela maior qualidade neles conseguidos.
Estes espaços, inicialmente periféricos, ganharam centralidade com o tempo, levantando expectativas imobiliárias de caráter especulativo. O deslocamento dos residentes para zonas mais afastadas era a conseqüência deste tipo de planejamento. Como reação, as associações de vizinhos madrilenas puseram em marcha um poderoso movimento pela moradia que, no marco político da transição democrática espanhola, deu lugar a um processo singular tanto pelas suas características como pelas suas dimensões.
A qualidade da cidade gerada é alta. No design arquitetônico se evitou aplicar uma tipologia uniforme como meio de alcançar um alto nível de coerência urbanística, integrando no novo bairro as numerosas edificações preexistentes. Um fator de primeira ordem foi a modificação da rede arterial, o atual M40, que cingia totalmente o novo bairro, permitindo assim a criação de um Parque Linear de 48 ha e 3 km de longitude no limite leste. Pelo Oeste o Parque da Colina do Tio Pio com 20,5 ha, também constitui um marco importante.
O nível de equipamentos e dotações é considerável. Foram erguidos 18 escolas, uma igreja, um centro esportivo, centros de saúde. A ampliação da Linha 1 do Metro ainda melhorou sensivelmente as comunicações da zona com o resto da cidade.
A arquitetura adotada na remodelação, com a predominância de tijolos aparentes, marcou positivamente a periferia madrilena. E não só ela. São várias as vozes que opinam que na remodelação se encontra uma parte da melhor arquitetura de Madri dos anos oitenta. Moradias de 100m² de superfície, construídas com elevados padrões de qualidade, sobre um espaço urbano rico em transporte viário, espaços livres, dotações e equipamentos. Uma arquitetura construída com apoio público que, por contaminação positiva, terminou por elevar sensivelmente o tom da qualidade da promoção privada de moradia.
É certo que a operação significou um benefício para a configuração da cidade em seu conjunto. Madri saiu ganhando.
(Projeto iniciado em 1979 e finalizado em 1996, com uma interrupção em 1990)

Fonte:
http://habitat.aq.upm.es/bpes/onu/bp258.html

Tradução e adaptação livre da Secretaria Municipal de Relações Internacionais


 

 

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